sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Chafariz do Carmo / Largo do Carmo

Chafariz do Carmo

Localizado no Largo do Carmo, mesmo em frente às ruínas do convento com o mesmo nome, o Chafariz pombalino do Carmo é um dos mais originais da capital.
O Chafariz era abastecido pelo Aqueduto das Águas Livres, através da Galeria do Loreto. Neste mesmo local existiu um chafariz até 1786, mas foi substituído pelo actual com quatro vãos de arco, com uma pirâmide com quatro delfins no seu interior.
Pensa-se que o projecto deste chafariz poderá ter sido do engenheiro militar genovês, o marechal de campo D. Miguel Ângelo de Blasco.
No século XIX este chafariz tinha quatro bicas, sete companhias de aguadeiros, sete capatazes, duzentos e trinta e um aguadeiros e dois veículos ligeiros.


 Convento do Carmo 
Em 1389, Dom Nuno Álvares Pereira, o fidalgo mais abastado de Portugal, compra terrenos à família Pessanha (antigos grandes proprietários da zona por doação do Rei D. Dinis), e aos frades do Convento da Trindade, para aqui construir o Convento que dá nome ao largo.
O convento construído no século XIV foi destruído a 1 de Novembro de 1755 com o terramoto, seguindo-se um incêndio. Para assinalar o trágico acontecimento, o convento não foi propositadamente reconstruído. A extinção das Ordens Religiosas em 1834, converteu-o em estância de madeira e em depósito de detritos, para em 1836 se reabilitar o edifício e aí se instalar a Guarda Municipal. Em 1864, o convento do Carmo transformou-se na sede da Real Associação de Arqueólogos e Arquitectos Portugueses, onde actualmente se encontra, mas com a nova designação de Associação dos Arqueólogos Portugueses. Uma parte do antigo convento é ainda ocupado pela Guarda Nacional Republicana,  local onde se deram os principais acontecimentos do 25 de Abril de 1974.




- Palácio do conde de Valadares que fica nos terrenos onde Dom Dinis mandou instalar a primeira casa da Universidade de Lisboa, com o nome de Estudo Geral. Segundo certas fontes, o primeiro palácio que existiu no local foi mandado construir no século XV por D. Pedro de Menezes, 1° Marquês e 3° Conde de Vila Real, sendo durante séculos à Casa Vila Real e, mais tarde, dos Valadares seus herdeiros. O facto que o acesso do elevador de Santa Justa se chame Travessa Dom Pedro de Menezes dá um certo peso a esta tese.O palácio, na sua configuração actual, data do século XVIII e foi mandado construir pelo 3.º conde de Valadares, D. Miguel Luís de Menezes. Contudo, este palácio veio a ruir com o terramoto de 1755.Reedificado integralmente, sofreu um incêndio em 1798, pelo que os seus proprietários só temporariamente o habitaram.Reconstruído mais uma vez, no início do séc. XIX por aqui passaram várias instituições, como por exemplo: o Clube Lisbonense (1834 a 1880), local de diversão frequentado pela “fina flôr” de Lisboa, o Liceu Nacional, o Liceu do Carmo, a Escola Veiga Beirão e é hoje a Escola E. B. 2. 3. Fernão Lopes;




Também neste largo se encontra a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, instalada num vulgar prédio desde 1780. Daqui saía, até 1908, a procissão do Triunfo ou dos Santos Nus.


LOCALIZAÇÃO







quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Jornal o Século / Rua do Século



A Rua de “O Século” é um arruamento situado no Bairro Alto, nas freguesias de Santa Catarina e Mercês, entre a Calçada do Combro e a Praça do Príncipe Real.
A Rua de “O Século” foi um topónimo atribuído em 18/11/1910 pela vereação republicana e pretendeu homenagear o jornal fundado em 1881 por Magalhães Lima que foi o seu primeiro director e um ardente paladino republicano, considerando que a sua propaganda tinha contribuído para a democratização do povo português e a consequente implantação da República em Portugal. Até aí esta artéria era conhecida por Rua Formosa, que, segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo, era uma denominação do século XVIII que acabou por ser legalizada pelo edital do Governo Civil de 1 de Setembro de 1859. Ainda antes o arruamento era conhecido como Rua do Longo que também segundo Norberto de Araújo, poderá dever-se ao facto de ali ter morado na segunda metade do século XVII um homem de seu apelido “Longuo” que faleceu em 1669.
 O Bairro Alto, embora sendo tradicionalmente um bairro popular, viu conviver habitações modestas, grandes conventos e ricas casas senhoriais. A reconstrução racional levada a cabo após o terramoto de 1755 modernizou o local, permitindo a aquisição de uma nova consciência urbanística e atraindo a nobreza, que depressa ergueu palacetes nas ruas interiores do bairro, zona essencialmente habitacional.
O Palácio dos Viscondes de Lançada erguia-se na então chamada Rua Formosa, topónimo certamente relacionado com a convivência, lado a lado, de edifícios nobres, sendo vizinho do Palácio dos Carvalhos, onde em 1699 nascera o Marquês de Pombal, e do Convento dos Paulistas, pela parte posterior.
No século XIX o palácio era frequentado por ilustres políticos e intelectuais, reunindo-se nos seus salões e dinamizando as primeiras tertúlias, pontuadas por nomes como Almeida Garrett, Júlio de Castilho, Bulhão Pato, Fontes Pereira de Melo, José Estevão ou Rodrigo da Fonseca.
A partir de finais do século XIX, boa parte da nobreza tradicional abandonava o bairro, que assistia à instalação de fábricas e ao nascimento da maioria dos jornais lisboetas, alterando a funcionalidade de vários edifícios.
Em 1881, instala-se no Palácio Lançada o jornal "O Século", fundado por Magalhães Lima, publicação que conheceria directores do calibre de Vitorino Nemésio. O palácio recebeu então inúmeras alterações, embora o corpo central e a entrada principal conservem ainda as características monumentais setecentistas de origem, tendo-se igualmente mantido a escadaria interior, em mármore, e alguns silhares de azulejos com bastante interesse. A partir de 1905 são adicionados três pisos ao edifício, destinados ao Bairro Operário de "O Século", ocupando ainda parte do que fora a quinta dos Viscondes de Lançada, com entrada pelo n.º 59 do imóvel. A capela do palácio, dedicada a Nossa Senhora do Monte do Carmo, era então transformada em casa de máquinas de impressão.
Mas particularmente ligadas à história do jornal ficariam as obras de princípios do século XX, quando foi anexada uma parte do contíguo Palácio Pombal, reconstruída para receber oficinas, escritórios e uma redacção belle époque, salão amplo e de pé-direito duplo, ritmado por graciosos colunelos em ferro, altos e finos, com capiteis trabalhados, e mobilada com balcões em madeira, cristais e latões dourados, cujo acesso se faz por uma porta rotativa. Na fachada ressalta a ampla utilização do ferro forjado e do vidro, em janelões com guardas de ferro policromado (em vermelhão) típicas da arquitectura da época, e que vazam por inteiro os dois andares intermédios.
Para além do valor patrimonial, como interessante exemplar da arquitectura do ferro e do ecletismo de finais do século XIX e da primeira metade do século XX, parte da relevância deste imóvel prende-se com a própria história da imprensa em Portugal, cuja influência viria mesmo a modificar a toponímia das freguesias do Bairro Alto; assim a Rua Formosa passou a chamar-se Rua do Século (desde 1911), e a Rua dos Calafates é hoje a Rua do Diário de Notícias, para citar apenas os periódicos de maior destaque num movimento que marcou fortemente o perfil cultural do bairro - afinal, na continuação das famosas "conferências" e soirées da Lisboa romântica, que o Palácio Lançada já conhecera.
As antigas instalações do jornal “O Século”, sitas na Rua do Século, n.ºs 41 a 63, em Lisboa, na freguesia de Santa Catarina, encontram-se classificadas como imóvel de interesse público, pelo Decreto n.º 5/2002, de 2002/02/19 (Diário da República n.º 42, I Série-B, de 2002/02/19).

Chafariz da Rua do Século

O Chafariz do Século, outrora chamado Chafariz da Rua Formosa é construído em calcário amarelo e ostenta três carrancas em bronze. Tem uma pequena escadaria de cinco degraus. Localiza-se numa praça em meia-laranja, em frente às casas do futuro Marquês de Pombal. Trata-se de um exemplar neo-clássico ainda de tendência rocaille. Este chafariz era alimentado por uma derivação da Galeria do Loreto, na Pia do Penalva, entre o Príncipe Real e a Rua D. Pedro V. Este ramal foi iniciado em 1760. No ano de 1762 o chafariz da Rua Formosa já funcionava, mas o arranjo urbanístico só terminaria em 1767. Terá sido traçado por Carlos Mardel. Os seus sobejos iam para a casa do Conde de Oeiras. Tinha este chafariz 4 Companhias de Aguadeiros, 4 capatazes, 132 aguadeiros e um ligeiro.
 Bibliografia
ANDRADE, José Sérgio Velloso d’ – Memória sobre chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém, e muitos logares do termo. Lisboa, 1851.
CAETANO, Joaquim Oliveira – Chafarizes de Lisboa. Sacavém : Distri-Editora, 1991.
FLORES, Alexandre M. – Chafarizes de Lisboa. Lisboa : Edições INAPA, 1999


LOCALIZAÇÃO




Cine Royal


Cine Royal

O Cine Royal na rua da Graça (obra do arquitecto Norte Júnior), exibindo na fachada o "selo" do seu proprietário (o industrial Agapito da Serra Fernandes ) - a famosa estrela que insistentemente se reproduz nos painéis azulejares e na calçada do bairro Estrela de Ouro - é inaugurado no Natal de 1929. A 5 de Abril de 1930 é exibido o filme "Sombras Brancas nos Mares do Sul", de Van Dyke, apresentado pela Metro-Goldwin-Mayer, deste modo estreando o Cine Royal o seu equipamento sonoro com aparelhos da Western Electric, o primeiro da cidade a dispôr de semelhante inovação, devidamente distinguido e premiado com a presença do Presidente da República.
Hoje em dia é um super-mercado.





 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Passeio Publico / Avenida da Liberdade



Quando após o terramoto de 1755, o Marquês de Pombal e seus colaboradores traçaram o plano da nova cidade, reconheceram a necessidade de criar um logradouro para recreio dos lisboetas, tão ansiosos por jardins e espaços arborizados.
Os terrenos onde então se situavam, entre outras, as Hortas da Mancebia e da Cera e os terrenos pertencentes ao conde de Castelo Melhor, também conhecido por sítio de Valverde, foram por isso expropriados, para aí ser construído e plantado o Passeio do Rossio, logo designado Passeio Público, que ocupou a área limitada a norte pela linha Alegria – Rua das Pretas, e a Sul por onde é hoje a Praça dos Restauradores. Pela sua extremidade setentrional passava a Rua do Salitre, que ia até à Rua das Pretas, sendo que para norte, ainda se sucediam as hortas até ao Vale do Pereiro. Entre o Passeio e as hortas ficava a Praça da Alegria de Baixo, ladeada ao norte por uma fila de prédios. Tudo isso teve de ser deitado abaixo quando, um século depois se fez a Avenida da Liberdade.
É de referir, que foi para a zona da Alegria de Baixo, sitio baixo e alagadiço, e muito provavelmente até a zona onde hoje está a estátua do Marquês de Pombal, que foram lançados os destroços e entulhos provindos das ruínas do terramoto.
Assim, o Passeio Publico, nas confrontações de hoje principiava junto ao primeiro portão do Palácio Foz e acabava no quarteirão da Avenida que é limitado pela Rua da Alegria à esquerda, e das Pretas à direita.
Com o início da construção em 1764, o Passeio foi traço do arquitecto Reinaldo Manuel e conheceu durante os seus cento e dezoito anos de vida duas épocas claramente distintas. Na primeira época, o Passeio que não passou de um espaço modesto e sem animação, descrito por Júlio de Castilho como de ”Ruas muito sombrias, banquetas de buxo simetricamente dispostas, pedestais com vasos e estátuas, em suma, um ar de quinta nobre que era uma delícia”. De facto, até 1836, o Passeio era unicamente um bosque, ladeado de altos muros revestidos pela parte interior de buxo e de louro, com quinze janelas de grade de cada lado, que lhe davam o resguardo necessário e de tradição. Contudo, a Sul, quer a entrada do Passeio, que mais não era que uma cancela, quer a sua frente eram constituídos por uma espécie de tapume de madeira, situação esta provisória, mas que se manteve até1834.
Ainda que seja incontestável que, na Lisboa setecentista, o Passeio Publico foi um melhoramento dos mais rasgados efeitos, na medida em que veio quebrar a monotonia existente nos Lisboetas, descritos por João Paulo Freire na sua “Lisboa do meu tempo e do meu passado”, como “ser bisonho e pouco expansivo, só com dificuldade se juntando, a não ser para assistir ás procissões e autos de fé”, e estabelecer relações de conveniência até ali não existentes, a verdade é o Passeio Público era pouco concorrido.
Leia-se o “Toucador” de 1822 que refere que “Se quisermos falar verdade e ser sinceros diremos: que há em Lisboa umas poucas de arvores plantadas à linha, que a isto se chama o Passeio Publico, onde não vai ninguém; e que a este se reduzem todos os lugares de passeio de Portugal, Brasil e Algarves.”
É de concluir que este Jardim Pombalino falhou na sua função de Passeio Público “numa cidade ainda traumatizada pela catástrofe que a vitimara, e onde a classe média não tinha o costume de espairecer, e ainda mais o seu elemento feminino, sempre recolhido em casa”.
Em 1834, também o clássico Jardim Pombalino não resistiu às novas eras, pelo que no advento da era liberal, acabou por ceder lugar a um novo espaço - o Passeio da Lisboa romântica de D. Fernando II, que o lançou na moda depois das obras que o modernizaram, trazendo-o à vida social, tendo a frequência começado a melhorar, chegando mesmo a ser o lugar predilecto da Lisboa taful.

Assim, sob o risco do arquitecto Malaquias Ferreira Leal, assessorado por uma comissão especial da Câmara, o Passeio Público renova-se: lagos, cascatas, estatuárias diversas povoam-no. Os altos muros pombalinos foram substituídos por muros baixos, encimados por gradeamentos, e completado por portões de ferro forjado com guarnecimentos de bronze.
As obras de aformoseamento foram então iniciadas pela Câmara em Setembro de 1834, ainda que apenas para se deitar abaixo as barracas existentes nas imediações. Só em 1835 tiveram as obras verdadeiro início, tendo sido incorporada uma grande parte do largo do passeio e destinada a jardim.
Em 1836, a Rainha D. Maria II, confiou ao Município a inteira administração do Passeio Publico, de cujas obras de melhoramentos se passaria a encarregar.
Já em 1838 estava o Passeio gradeado a toda a volta e havia sido construído à entrada do lado sul, um lago enorme, que fazia o encanto dos lisboetas desse tempo. O povo da altura cantava:
“Fui ao Passeio ver o repuxo
Fiquei admirado de ver tanto luxo.”
Essa entrada era constituída por três portas de ferro, sendo a do centro mais larga. Entre as portas viam-se duas coroas de louro douradas com o dístico “4 de Abril de 1838”, data de aniversário da Rainha, e dia em que aquelas foram colocadas com grande pompa, marcando a sua inauguração pela Rainha D. Maria II, ainda que as obras no passeio público tivessem continuado sem interrupção ao longo dos anos de 1840.
Ao lado das portas havia duas casas, uma para a guarda e outra para o porteiro e arrecadação. As grades, de 1835, eram, como as das portas, em feitio de lanças, divididas de espaço, por pilaretes de cantaria quadrangulares e coroadas de capitéis, um pouco mais altos. Este gradeamento assentava sobre uma cortina de cantaria com três pés de altura, para o lado de dentro, variando para o lado das ruas consoante o declive do terreno.
O Jardim ficou dividido em quatro quadras e ao centro um lago, com 129 pés de circunferência, com alto pedestal ostentando uma bacia de pedra inteiriça, no meio da qual se erigia uma pinha de onde provinha um repuxo. Às faces do pedestal, acostavam-se as estátuas de tritões e sereias. Estas eram inicialmente destinadas ao chafariz do Campo Sant’ana que contudo nunca chegou a ser montado. São da autoria do canteiro Alexandre Gomes, discípulo de Alexandre Justi, escultor italiano que veio para Portugal em 1474, para assentar a riquíssima capela de S. João Batista em S. Roque e seriam concluídas por João Gregório Viegas quando a Câmara as decidiu colocar no Passeio Público. Estas estátuas estão hoje no pátio do Palácio Pimenta (Museu da Cidade), aguardando uma possível reconstituição.
Entrava-se depois no “bosque”, onde à entrada foram colocadas as estátuas alegóricas aos rios Tejo e Douro, também de Alexandre Gomes e também destinadas inicialmente ao já referido chafariz de Sant’ana, e que ainda hoje se podem admirar na Avenida da Liberdade.
O “bosque” era dividido em “13 ruas ao comprimento e 32 à largura”, sendo o intervalo de “árvore para árvore ocupado com bancadas de buxo e louro”. Neste percurso havia ainda mais “quatro pequenos lagos circulares, dois à entrada e dois à saída, guarnecidos de pirâmide e paredes de buxo”.
O topo Norte do Passeio, ao cimo da rua central, era rematado por uma magnífica cascata, obra ali colocada segundo o plano de melhoramentos de Malaquias Leal em 1840. Tratava-se de um pavilhão de pedra ladeado por duas escadarias que conduziam ao terraço, de onde se usufruía de privilegiadas vistas sobre a baixa e o Tejo. Sob este, na fachada interior, abriam-se três grutas cobertas de folhagem e plantas aquáticas. Na do centro podia admirar-se uma estátua da Deusa Anfitrite, Rainha do Mar, deitando água de um vaso que sustinha nos braços, obra do escultor Francisco Assis Rodrigues, famoso discípulo de Machado do Castro. Frente às grutas, num lago circular, havia dois cisnes, também de pedra e do mesmo autor, que pareciam nadar. As grutas eram caprichosamente enfeitadas com seixos e conchas, que formavam lindíssimos desenhos.
Todos estes melhoramentos traduziram-se também num aumento do Passeio em 30 metros no comprimento e vinte na largura, bem como ao derrube de algumas árvores copadas, que deram lugar a outras de menor porte e a arbustos, trazendo uma manifesta redução do número de área de sombras.
Refira-se a descrição quase rigorosa da Marquesa de Rio Maior, no livro “Memórias da Marquesa de Rio Maior, de Branca de Conta Colasso, de 1930”: “ Um belo dia (…) encontrei o Passeio transformado (…) um elegante gradeamento substituía o muro de pedra; entrava-se por um portão também de ferro (…) havia esplêndidas acácias logo à entrada. E um grande lago com repuxo (…) depois, ao centro, outros lagos com o Tejo e o Douro (…) e chorões. Um coreto magnifico para música. Muitas árvores raras (…) e ao fundo, pela altura da Rua das Pretas, uma linda cascata com avencas.”
É a época de ouro do Jardim Municipal.
Criado o ambiente, o Passeio Público tornou-se o ponto de reunião dos lisboetas de todas as classes.
Era um vasto salão ao ar livre, e centro de cultura e de má-língua. Ouvia-se música, e realizavam-se festas que ficaram memoráveis, os bailes infantis organizados pelo professor de dança Justino Soares, os fogos de artifício do habilidoso pirotécnico José Rodrigues, e as inúmeras festas de caridade. Enchia-se quando, aos domingos, tocava a famosa banda dos marinheiros, dirigida pelo Reinhard. Depois vieram os concertos nocturnos do Cardim; e, rodados anos, em 1879, ficaram célebres os concertos sinfónicos regidos por Madame Josephine Amann.
A Família Real dignava-se a frequentar o Jardim, não sendo raro ver a Rainha e os Príncipes passeando nas frondosas alamedas, momentos imortalizados por Leonel Marques Pereira, na famosa tela que hoje se pode admirar no Palácio de Sintra.
Em 1874-75, encontramos de entre os mais assíduos frequentadores do Passeio Publico, Guerra Junqueiro, Guilherme de Azevedo, Henrique das Neves, Bulhão Pato, António Cândido, Ramalho, Eça de Queiroz, Antero, Gomes Leal e muitos outros, tudo nomes de primeira linha no escol intelectual da época.
Em Agosto de 1851, com a chegada do gás, ficaram também célebres as iluminações do Passeio, tendo-se registado a visita de 15612 pessoas em 3 noites, para o que muito terá contribuído o “sexo amável”, “muitas senhoras das famílias dos mais notáveis da capital”. Refira-se que quando havia iluminações no Passeio, a entrada era paga, e para que a gente do povo não gozasse o espectáculo de graça, as grades eram vedadas por grandes coberturas de lona.
É bom notar que até 1852 a entrada no Passeio Publico era vedada a homens de jaqueta ou sem gravata e a mulheres de capote. Foi o Vereador José Augusto Braamcamp quem acabou com essa disparatada proibição.
De facto, o Passeio era público mas com certas restrições, pois as portas e as grades incutiam aos seus frequentadores um mínimo de moderação e reserva. Em 1874, em sessão da Câmara, é proposta a demolição dessas grades e portas, não se tendo no entanto tomado nenhuma deliberação. Apenas em 28 de Novembro de 1877 foi calculado por Ressano Garcia em oitenta e quatro contos de reis o orçamento total de tais obras, tendo-se tomado a decisão de demolir as grades do passeio.
Na sua fase final, o Passeio tinha decaído muito, principalmente depois da permissão de entrada a toda gente, tornando-se numa espécie de ponto abrigado e refúgio amoroso aos soldados e às amas de leite, que eram, por 1882, as mais assíduas frequentadoras do Passeio Publico. Assim, em 1883 deixava o Passeio Público de existir às ordens do camartelo municipal.
Manteve-se até 1879, ano em que a 24 de Agosto se iniciaram as demolições para dar lugar à Avenida da Liberdade. Esta foi construída por iniciativa de Rosa Araújo, romântico visionário duma Lisboa moderna e presidente do município de então e traçada segundo um plano do arquitecto Ressano Garcia. O primeiro troço foi inaugurado em 28 de Abril de 1886. Na avenida foram abertas uma rua central e duas laterais, separadas por placas arborizadas.
Cada um dos talhões tinha a sua arborização especial: ulmeiros, plátanos, olaias, lódãos, acácias, palmeiras, amoreira das China. Eram sobretudo notáveis pela rica pompa de vegetação e emaranhado do arvoredo os talhões que mediavam entre a Rua das Pretas e o Largo da Anunciada, do lado este, e a Calçada da Glória e a Praça da Alegria, do lado Oeste.

O Passeio Público, verdadeiro e imprescindível local de lazer dos lisboetas românticos, que o viam como uma instituição citadina de sempre, não foi poupado pela edilidade na altura própria para dar lugar à Avenida da Liberdade e, irradiantes dela, a todos os empreendimentos que deram à cidade a sua fisionomia europeia.
Síntese cronológica do Passeio Público
1764 – Desenhado por Reinaldo Manuel, arquitecto da cidade, sobre as então chamadas Hortas da Cera, terras húmidas e alagadiças, que foram elevadas, deitando-se para lá os entulhos do Terramoto, e plantados os primeiros freixos, oferta de Jacomo Ratton, que os mandou vir da sua quinta de Barroca d’Alva;
1807 – Figura já na Carta Topográfica de Lisboa, levantada nesse ano pelo capitão engenheiro Duarte José Fava, edição da Casa do Risco;
1815 – Recebe, por Avisos de 29 de Julho e de 9 de Setembro, nove penas de água municipal para alimento das suas fontes e dos seus lagos;
1834 – Pensa-se na sua modificação, alargamento e embelezamento, que serão executados pelo Engenheiro Malaquias Ferreira Leal, auxiliado por uma comissão especial da Câmara. Em Setembro a Câmara manda deitar abaixo todas as barracas que pejavam nas imediações;
1835 – A Câmara Municipal destina numa das suas sessões de Outubro, 2.332$000 reis para os projectos de melhoramentos;
1836 – Em Novembro a Câmara pede ao Governo a cedência das estátuas que eram inicialmente destinadas ao chafariz de Sant’Ana, e que se encontravam fechadas num barracão, para serem colocadas no lago junto a entrada Sul, a que o Governo anuiu;
1838 – A 4 de Abril é inaugurada pela Rainha D. Maria I, a nova frente e entrada Sul;
1840 – É inaugurada a nova entrada Norte;
1849 – São apeadas a bacia e as estátuas da fonte monumental (junto à porta Sul);
1851 – Em Agosto realizam-se as primeiras iluminações a gás, que ficaram celebres e foram relembradas durante muito tempo;
1852 – Deixa de se fazer na rua principal a revista às tropas da guarnição, e que figuravam depois na Procissão do Corpo de Deus, para evitar estragos e prejuízos de toda a ordem. É também nesse ano em Agosto, por proposta do Vereador José Augusto Braamcamp, que passam a ser admitidas todas as pessoas decentemente vestidas, sem excepção de homens de jaqueta e mulheres de capote. Em Outubro deu-se o primeiro grande desbaste no magnífico arvoredo;
1859 – Na sessão de 3 de Julho o Visconde de Villa Maior, Justino Máximo de Oliveira Pimentel, apresenta uma proposta para se estudar a abertura de uma Avenida que seguisse do Passeio Público, pela parte inferior do Salitre e pelas Terras do Vale de Pereiro até S. Sebastião da Pedreira e Campo Pequeno;
1863 – O Vereador Severo de Carvalho, a 5 de Março, propõe a abertura de um grande arruamento desde o Passeio até S. Sebastião da Pedreira. Na sessão de dia 16 do mesmo mês foi aprovada para dia 20 uma vistoria a fazer nos terrenos destinados a esse melhoramento.
1870 – O engenheiro Bartholomeu Déjante elabora o projecto da Avenida, proposto pelo Visconde de Villa Maior;
1873 - Os deputados Saraiva de Carvalho e Pereira de Almeida, apresentaram no Parlamento uma proposta autorizando a Câmara a fazer as expropriações necessárias para o rompimento de uma avenida de 50 metros de largo, segundo novo plano delineado, desta vez pelo arquitecto Domingos Parente da Silva;
1874 – O Vereador Francisco Simões Margiochi, par do reino, propôs na sessão de 21 de Maio, que se iniciassem as obras e se demolissem imediatamente as grades e cortinas do passeio. Em 9 de Junho, foi recebido na vereação um abaixo-assinado com cerca de 1600 assinaturas, contra tal projecto;
1879 – A 24 de Agosto iniciaram-se as demolições para dar lugar à Avenida da Liberdade;
1882 – A 11 de Novembro começam a demolir-se as vedações e gradeamentos do Passeio;
1886 – A 28 de Abril de 1886, ainda por concluir, é solenemente inaugurada a Av. da Liberdade, com a presença do Rei D. Luís e do Príncipe D. Carlos, e a 25 de Maio realizou-se na Avenida a primeira parada militar.
Fonte: Lisboa do meu tempo e do meu passado, João Paulo Freire, Parceria António Maria Pereira 1932
TEXTO RETIRADO DA PAGINA DA FREGUESIA DE SÃO JOSÉ



LOCALIZAÇÃO






terça-feira, 27 de novembro de 2012

Cinema Odeon


O Cinema Odeon é a última maravilha Art Deco clássico existente na cidade de Lisboa. O Odeon foi inaugurado em 1927. Foi modernizado em 1931 recebendo as galerias metálicas que ainda hoje o caracterizam. O interior é notável, com uma cobertura em madeira escura pau-Brasil na forma da quilha de navio, o palco com frontão Art Deco, e o lustre central com raios de luzes néon. Composto por plateia, dois balcões e camarotes, pode acomodar 691 espectadores. Possui também um mecanismo que permite que a sala seja iluminada com luz natural se assim se desejar. Na segunda metade dos anos 80 passou a exibir sessões de cinema pornográfico  e já nos anos 90 viria a encerrar. Actualmente está no meio de uma batalha judicial entre as autoridades, que pretendem a sua requalificação e classificação como património de interesse histórico e cultural, e o seu proprietário que se recusa a negociar e a fazer as obras de restauro propostas pelo IGESPAR e pelo IPPAR.










 

Animatógrafo do Rossio


Fundado em 8 de Dezembro de 1907, pelos irmãos Ernesto Cardoso Correia e Joaquim Cardoso Correia, que fundaram a firma Correia & Correia, oferecia uma lotação de mais de cem lugares e situava-se na Rua dos Sapateiros, nº 229, junto ao Arco Bandeira.
A sua fachada é uma das mais características de Lisboa, sendo para a época, um dos raros exemplos do estilo “Arte Nova”; os relevos exteriores são executados em madeira esculpida e os azulejos (datados de 1907 e assinados por M. Queriol), que se encontram entre as portas e a bilheteira, são ornamentados com duas figuras femininas, com cabelos entrelaçados e segurando entre as mãos dois caules de plantas, rematadas por lâmpadas.
Embora criado para a exibição cinematográfica, pela sua sala passou também um teatro muito especial – uma companhia de Teatro Infantil. Após algumas épocas teatrais, regressa novamente à exploração cinematográfica, actividade que vai manter até à abertura de uma sex shop, actividade que ainda hoje mantém.







 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Largo da Academia Nacional de Belas Artes



  A Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa é uma instituição de ensino público universitário dedicada ao ensino e investigação nas áreas da Pintura, Escultura, Design de Equipamento, Design de Comunicação e Arte e Multimédia, Ciências da Arte e do Património e Desenho.
 Instalada no antigo convento quinhentista de São Francisco da Cidade, confiscado em 1834 através dos decretos anticlericais, a Academia tinha inicialmente como funções: a formação de novos artistas, a identificação, a classificação, a inventariação, a conservação e o restauro das obras artísticas com o intuito de promover o desenvolvimento das belas artes e dos estudos arquitectónicos, a preparação de exposições e conferências, entre outras.
O Convento de São Francisco da Cidade, foi fundado em 1217 por Frei Zacarias, que três anos antes chegara a Portugal na companhia de Frei Gualter, ambos vindos de Assis.
Munidos de credenciais atestadas pelo próprio fundador da Ordem Franciscana, obtiveram licença do rei D. Afonso II - cuja corte estava sedeada em Coimbra - para construírem dois novos conventos. Frei Guálter foi fundar um em Guimarães. Frei Zacarias foi para Lisboa, ali se dedicando à edificação do quarto convento construído nessa cidade (após os de São Vicente de Fora, de Santos, e de Chelas) desde que esta fora conquistada por D. Afonso Henriques, em 1147.
O local escolhido para a sua implantação foi o Monte Fragoso – local então ermo e despovoado, cuja escarpa (durante muito tempo conhecida como «Barrocal») era banhada pelo rio Tejo na antiga praia de Cataquefarás (actual Largo do Corpo Santo). Construído sobre um rochedo, o edifício original tinha a sua porta principal virada a sul, acedendo-se a ela, como ainda hoje, pela Calçada de São Francisco, a qual foi criada com sucessivos aterros.
A área do Convento de S. Francisco da Cidade era tão grande que o povo lhe chamava «a Cidade de São Francisco». Foi ampliado logo em 1246 e integrado na cidade após a construção, em meados do século XIV da «Muralha Fernandina», que tinha o seu limite na actual Rua do Alecrim – Lisboa passou então a estar defendida por uma longa muralha dotada de 77 torres, que resistiu durante vários meses ao cerco castelhano durante a crise de 1383-1385. A porta principal da cidade situava-se então junto ao actual Largo do Chiado, entre as duas igrejas.
O convento conheceu o seu período de maior fausto durante os séculos XV e XVI, tendo sido reedificado em 1528. Além de convento e templo, serviu também como albergue e hospital, e foi na sua Livraria que se reuniram as Cortes do país em 1579, 1619, 1642, 1668 e 1679. Em 1708 e 1741 foi porém pasto de dois terríveis incêndios. Por fim, quando acabava de ser reconstruído mais uma vez, foi arrasado pelo Terramoto de 1755 e o incêndio que a este se seguiu: «suas riquezas, sua igreja de três naves, sua preciosa livraria, obras de arte e raridades, desapareceu». Segundo Baltazar Matos Caeiro, ali pereceram nessa altura 600 pessoas «e apenas se encontraram intactos um cálice e um incensório».
Começou depois a lenta construção de uma nova igreja – com traço de Honorato José Correia – que se pretendia majestosa. Mas não estava ainda concluída quando foram extintas as Ordens religiosas, em 1834. As dependências do convento e as suas extensas galerias passaram então a servir como depósito geral do espólio livreiro vindo dos demais conventos do país, ali ficando instalada a Biblioteca Nacional de Portugal a partir de 1836, até ser transferida para as actuais instalações no Campo Grande em 1965.
Também em 1836 começou a funcionar no primeiro piso do edifício a Academia de Belas-Artes, que em 1862 passaria a designar-se Academia Real de Belas-Artes (actual Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa); nesse mesmo ano é aí instalada a Galeria Nacional de Pintura, que, a partir de 1911, daria origem ao Museu Nacional de Arte Contemporânea (actual Museu do Chiado).
Em 1839 demoliu-se o edifício que fora implantado no lugar da antiga igreja. As colunas jónicas que ostentava no exterior foram integradas nas fachadas da Escola Politécnica e do Teatro Nacional D. Maria II. Mais tarde, ali seria instalada a Escola Superior de Belas Artes, que a partir de 1965 ocupou as áreas tornadas devolutas após a transferência da Biblioteca Nacional.
No Capítulo Geral celebrado no ano (1217) na Porciúncula, S. Francisco de Assis enviou os seus irmãos na missão e, com Frei Gualter e Frei Zacarias vieram também mais cinco frades que passaram por Portugal a caminho de Marrocos, onde pagaram com a vida a sua missão, sangue este que constituiu parte importante para o crescimento e o carisma franciscano em terras lusas.




Convento das Trinas de Mocambo


O extinto Convento das Trinas do Mocambo deve a sua existência aos flamengos Cornélio Vandali e sua mulher, Marta de Boz, que neste local fundaram uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora da Soledade em 1657. As obras de construção do convento começaram pouco depois da morte do casal e prolongaram-se durante muito tempo devido a dificuldades económicas, estando o complexo ainda por concluir à data do terramoto de 1755. O edifício conventual reflecte bem as várias épocas de construção, combinando o requinte de espaços decorados com azulejos da primeira metade do século XVIII com a apressada resposta pombalina aos efeitos do sismo de 1755. Em 1910 as portas do convento encerraram-se definitivamente e o espaço foi aproveitado como asilo. Já na década de 40 procedeu-se ao primeiro restauro de todo o conjunto conventual, e sensivelmente dez anos mais tarde a sua posse passou para a Marinha, que aqui instalou o Instituto Hidrográfico.









Igreja do Convento de Arroios


Construído em 1705 a partir do financiamento de D. Catarina de Bragança, filha de Dom João IV e de Dona Luísa de Gusmão, funcionou até 1755 nesse espaço conventual o colégio de formação dos Jesuítas, tomando o nome de colégio de São Jorge de Arroios.
Resistiu ao terramoto de 1755 mas não à expulsão dos Jesuítas em 1759, altura em que Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal (1769), determinou a ocupação do convento pelas freiras Concepcionistas Franciscanas, ficando o espaço a ser conhecido por convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios.
Igreja do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios, actual Hospital de Arroios, Eduardo Portugal, s.d, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - BO 94585
Igreja do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios, actual Hospital de Arroios, Eduardo Portugal, s.d, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML - BO 94585
O convento ficou devoluto em 1890, ano em que morreu a última freira e em 1892, o Estado decidiu que o seu espaço fosse convertido em hospital e ficasse sob a administração do Hospital Real de São José. Foi então determinado que funcionasse um hospital de isolamento para doentes com peste bubónica, cólera, varíola, lepra e tuberculose.
A partir de 1898, o antigo convento tomou o nome de Hospital Rainha Dona Amélia e destinou-se somente ao tratamento e prevenção da tuberculose, para em 1911 após a Implantação da República se passar a chamar Hospital de Arroios. Funcionou até 1993, altura em que foi definitivamente desactivado, encontrando-se actualmente devoluto.
Foi na igreja do convento que  permaneceram  os restos mortais do Marquês de Pombal trasladados do convento de Santo António de Coimbra, antes de serem transportados para a Igreja de Nossa Senhora das Mercês. 
A Igreja continua aberta ao culto sendo frequentada sobretudo pela comunidade ucraniana residente em Lisboa.
Bibliografia
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, 1.ª ed., Sacavém, Carlos Quintas & Associados – Consultores, 1994, pp. 93, 441-442.




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domingo, 25 de novembro de 2012

Chafariz de Arroios




O CHAFARIZ DE ARROIOS»

O «CHAFARIZ DE ARROIOS» foi construído no ano de 1624 no lugar que lhe deu o nome. No ano de 1884 era transferido para a velha «ESTRADA DAS AMOREIRAS», hoje «RUA CARLOS JOSÉ BARREIROS», colocado mesmo defronte da parte lateral da «IGREJA DE S. JORGE DE ARROIOS» e ficava-lhe nas traseiras o «PALÁCIO DO CONDE DA GUARDA». Em 1935 levaram-no definitivamente e no local foram construídos os modernos edifícios que têm os números 3 e 5.
O «CHAFARIZ DE ARROIOS» possuía duas torneiras onde o povo e os aguadeiros se abasteciam tendo na parte de baixo, uma bica que corria continuamente para um tanque, que servia de bebedouro para os animais.
Neste chafariz estavam esculpidas as armas da cidade com seu navio, e as do Reino, com os castelos e quinas. Existia também uma legenda que nos assegurava ser a obra de (1624) e mandada fazer pela Cidade, à custa do real de água.
Ainda no Chafariz, na parte de cima da verga da porta de entrada para a mina, estavam duas inscrições. Uma de letra gótica outra em tipo corrente de inscrição, mas afirmando ambas que: "na era de 1398 teve princípio esta fonte, no campo de "LOURENÇO AFONSO COSTA".

Devemos elucidar que este sítio era muito fértil em água e já  vem do período «TERCIÁRIO MARÍTIMO-LACUSTRE», em que esta parte da cidade de LISBOA tinha o privilégio de possuir as águas sulfatadas calcárias e, em especial esta da «RIBEIRA DE ARROIOS» que se estendia para um longo vale, supostamente um antigo afluente do estuário do TEJO, que descia do sítio de «ARROIOS», seguia pelo "REGUEIRÃO DOS ANJOS", passava na «RUA DA PALMA» indo ligar à parte norte do «ROSSIO».
No «CHAFARIZ DE ARROIOS» estava colocado um "BRASÃO DE ARMAS" em pedra lioz, com dimensões de 695x500x125 milímetros, representando um baixo relevo proveniente do demolido Chafariz, constituído por lápide de formato rectangular, apresentando à esquerda as armas nacionais, compostas por uma orla em forma de escudo peninsular com 13 castelos e contendo 5 escudetes no seu interior, estando os dois laterais apontados para o centro. Do lado direito o «BRASÃO DA CIDADE DE LISBOA», constituído por uma barca ancorada e dois corvos que remetem para a lenda de «SÃO VICENTE», padroeiro da Cidade desde o século XII.
Apresenta ainda a particularidade de representar, no fundo do mar, alguns elementos da faina marítima.
É a partir do século XII que a divisa da cidade se estabiliza, passando a ser representada de uma embarcação e dois corvos.
Este «BRASÃO DE ARMAS» retirado do extinto «CHAFARIZ DE ARROIOS» encontra-se hoje no «MUSEU DA CIDADE».
Nos anos 50 do século passado a Administração Geral dos CTT editaram uma colecção de postais, baseados na reprodução de uma gravura de «A. TABORDA», onde podemos ver representado o «CHAFARIZ DE ARROIOS».

TEXTO RETIRADO DO BLOG RUAS DE LISBOA COM ALGUMA HISTÓRIA


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sábado, 24 de novembro de 2012

Palácio do Marquês da Praia / Largo do Rato

PALÁCIO DO MARQUÊS DA PRAIA
No LARGO DO RATO existia a famosa Fábrica de Loiça do Rato e foi sobre os seus terrenos, que em 1784, um funcionário superior da Coroa, Luís José de Brito, contador do Erário Real, mandou edificar um Palácio, ao gosto neoclássico e de linhas simples.
Trata-se de um belo Palácio, com rés-do-chão e dois andares. No segundo andar apresenta uma magnifica fiada de portas envidraçadas com varandas de ferro forjado e no primeiro várias janelas. A entrada principal faz-se pelo grande portal de madeira ladeado de duas portas também de madeira.


Falecido o primeiro proprietário, sua viúva alugou a casa, que veio, mais tarde, a ser comprada pelo Barão de Quintela, aquele fidalgo fabulosamente rico que foi dono do Palacete na Rua do Alecrim e de edifícios sumptuosos nas Laranjeiras.
Por herança, foi o Palacete do Rato parar às mãos do Marquês de Viana, dado que este foi casado com uma neta do referido Barão de Quintela. Foi nessa época (final do segundo quartel do século XIX e primeiros anos do seguinte) que aquela casa passou pela sua fase de maior esplendor.
Estavam então em moda, as grandes festas em Lisboa. Os Marqueses de Viana não deixaram os seus créditos por mãos alheias e, por seu convite, passaram pelo Rato verdadeiras paradas da aristocracia, com a inerente opulência e, muitas vezes, bom gosto. Em 1855, um baile de máscaras contou mesmo com a presença dos príncipes D. Pedro e D. Luís (que viriam a ser Reis anos depois) e de seus irmãos.
Em 1876, o palácio era vendido ao visconde de Monforte e deste passou para a uma sua sobrinha, que veio a casar com o Marquês da Praia, António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa.
Manteve-se a casa, até há relativamente poucos anos, na posse destes Marqueses, dos quais era descendente directo o Dr. Duarte Borges Coutinho, que foi nos anos 70 do século XX, presidente do Sport Lisboa e Benfica.


Para qualquer observador atento não passará desapercebido o edifício, que actualmente é a Sede do Partido Socialista no número 2 do Largo do Rato, entre a Rua das Amoreiras e a Calçada Bento da Rocha Cabral, mais conhecido no século passado como o Palácio do Marquês da Praia.

TEXTO RETIRADO DO BLOG RUAS DE LISBOA COM ALGUMA HISTÓRIA 

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Convento das Trinas do Rato /Largo do Rato


O convento foi fundado em 1633, por Manuel Gomes Elvas para recolhimento de senhoras de linhagem, e em número de 40, como revela a lápide de 1637, que se encontra sobre o portal maneirista. Instalado num local, considerado como zona de retiro, o edifício confinava com os terrenos dos padres oratorianos da Congregação de São Filipe de Neri. Teve como principais mecenas e responsáveis pela conclusão das obras, Manuel Correia de Lacerda  e Luís Gomes de Sá e Meneses, por alcunha "O Rato", que deu o nome ao recolhimento e ao actual largo. A decoração da igreja e do convento deveu-se à acção de D. Tomás de Almeida, 1º Cardeal Patriarca  de Lisboa, responsável também pela criação da actual freguesia de Santa Isabel. O traço arquitéctónico do convento ainda se mantém já que o terramoto de 1755, pouco o afectou. Salienta-se o conjunto maneirista da capela-mor da igreja, em pedraria lavrada, com pinturas alusivas à Paixão de Cristo.